Manta, 2021
Série de Fotografias Digitais
Série de Fotografias Digitais
Elaborada durante a quarentena em 2021, a série fotográfica Manta é o registro em imagens de uma estranha superfície, de uma massa escura multicolor que esteve localizada por dois meses na interioridade do próprio apartamento onde eu vivo.
A série fotográfica Manta dá continuidade à investigação que conduzo como artista e pesquisador. Nela, trabalho com registro em imagens de intervenções espaciais a partir de materiais perecíveis e fluidos de natureza entrópica/efêmera. Em ambientes escolhidos, como escadaria de um prédio residencial, a área comum de uma faculdade privada abandonada e o cômodo vazio de um apartamento, trabalho com agrupamentos de diferentes líquidos com naturezas distintas e, por vezes, conflitantes. Esses agrupamentos normalmente resultam em misturas heterogêneas e provocam reações inesperadas entre os materiais, que reverberam, de algum modo, na relação que mantêm com o espaço.
As fotografias são, assim entendo, além de um instrumento de registro das intervenções antes que sua deterioração completa ocorra, um meio pelo que crio imagens que possibilitam tecer relações entre objeto infamiliar/intervenção e o espaço arquitetônico. Sou motivado por estimular certo atravessamento entre a suposta normatividade racionalista imanente no espaço e na arquitetura (e seu eco social) e a fluidez, precariedade, degradação, acumulação e acidentabilidade das formas e materiais que utilizo. Nas fotografias, sinto a enunciação de um sentimento de natureza estranha que advém desse encontro, um que evoca certo senso de vazio e desamparo nas imagens.
Especificamente a respeito da série Manta, a partir de detalhes e fotos abertas, um estranho solo se prolifera em um quarto vazio de paredes brancas. A porta do quarto está aberta e esse solo avança para dentro do corredor. A superfície que cobre o chão é opaca: diferentes materiais se encontram em uma rebentação de massas, densidades e cores. Há algo como um confinamento, no quarto e na imagem. Ao mesmo tempo, há um expansão notável: esse solo se alastra para além dos limites das imagens, para além do nosso campo de visão. Para onde vai? De onde veio? Quantas camadas se sobrepõe ali? Quantos universos existem dentro desse mesmo conjunto?
Instagram: @gabrielfampa