A pandemia e o mito da igualdade. O vírus COVID-19 não é democrático como muitos pensavam. Realmente ele não discerne entre pobres e ricos, mas a forma como são cuidados, tratados e priorizados, diz muito do nosso país, que é extremamente excludente, diferindo de acordo com a classe social, a cor, o gênero, e a etnia de cada um. O risco de contágio é maior nas classes mais pobres pois, muitos continuaram trabalhando “normalmente”. Percebe-se uma taxa de letalidade muito maior entre negros, pardos e indígenas do que entre brancos. E ainda temos o aumento da violência doméstica. Segundo o governo federal, houve uma queda no números de registros de violência doméstica. Mas, esses números não geram confiança. Será que a violência está caindo ou as mulheres estão com dificuldade de acessar os equipamentos públicos? A diminuição do registro nas delegacias, dá-se por diversos motivos e uma delas é o maior controle do agressor sobre a vítima, impossibilitando a sua denúncia. As autoridades explicam que a violência doméstica aumentou na Pandemia, mas diminui a notificação. O site da Organização das Nações Unidas (ONU) ressalta que na periferia e no campo, as mulheres, encontram mais dificuldade para denunciar e falar sobre a violência que estão sofrendo. Uma coisa é certa, devemos discutir urgentemente o impacto da pandemia entre as mulheres e desenvolver ações de enfrentamento à violência doméstica. Com base nisso, você ainda acredita no Mito da igualdade do vírus COVID-19? Fica em casa pra quem? O Manifesto Iaçá foi pensado para ser uma das ações possíveis de enfrentamento à violência doméstica. Através do registro fotográfico de mulheres vítimas deste tipo de agressão. Os retratos são acompanhados de uma frase padrão e uma palavra que signifique a opressão sofrida, por exemplo: “Não podia AMAMENTAR porque ele não queria”, “Não podia FALAR porque ele não queria”, etc. As personagens são mulheres em condição de vulnerabilidade socioeconômica, que precisam ser ouvidas e devem ser acolhidas, impedindo assim o apagamento dessas narrativas. O açaí entra como um elemento não só estético, mas também como parte de um ritual, quase que espiritual de lavar a alma, lavar as nossas dores. Entra também como um ponto marcador de um território, a periferia em Belém. Em vários bairros de nossa cidade, o açaí é a base da alimentação de muitas pessoas, também faz parte da nossa cultura alimentar e mapa afetivo e espiritual. O projeto também é inspirado na força e potência de Iaçá, mulher indígena que faz parte da lenda do nascimento do açaí na Amazônia. “Sofri desde pequenas à grandes violências dentro da casa que nasci e cresci, ouvi xingamentos e piadas por ter engordado, era humilhada por não tirar notas altas na escola. Era corriqueiro acordar e ouvir que nunca seria nada, que mulher era estuprada porque tinha feito algo, entre outras coisas que não vou nem comentar. O fato era que o ódio a mulher, a misoginia era frequente em meu cotidiano, até que rompi com esses que tanto me humilharam simplesmente por ser mulher e não querer seguir os padrões que queriam pra mim. Consegui minha liberdade tardiamente, mas consegui. E hoje luto e procuro estar junto com outras mulheres, para que sejamos ouvidas. Falar faz bem, limpa a alma e o coração. Minha vontade é que outras consigam se libertar também. Ter liberdade não é fácil, ainda mais num país tão preconceituoso e machista como o nosso”. “Espero que esse manifesto possa ajudar as mulheres a denunciar as suas violências vividas, que possa ser um condutor de mudanças positivas, de reflexões e questionamentos sobre a violência contra mulher, que nós mulheres não sejamos mais violentadas só pelo fato de ser mulher. Que possamos olhar e acolher umas as outras. Acho que as pequenas revoluções irão acontecer a partir de nós mulheres, e sim, juntas somos mais fortes, eu acredito”.
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